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Kardec a guerra

Nestes tempos difíceis, em que governos, instituições esboroam e fronteiras mudam ao sabor das ambições de grupos e interesses econômicos, se ouve de todos os lados comentários, notícias, informes, se vêem fotos por satélites, jornalistas que dão a vida por informações, milhares de pessoas nas ruas, enfrentando até as milícias, no tentame nobre de impedir o uso do arbítrio da força, contra a força do arbítrio.
Nunca, como hoje , jovens, velhos, e até mesmo crianças se sentiram mobilizadas, diante do avanço de tropas em territórios longínquos, onde uma cultura bem diferente da nossa, tem sobrevivido, apesar das intempéries avassaladoras dos interesses de uns poucos, nos seus recursos naturais.
Digam o que disserem, há um ponto pacífico: guerra é sempre sinal de atraso.
Lembro-me de um trecho importante do Obras Póstumas, livro pouco lido e estudado no meio espírita ou às vezes, utilizado apenas para servir de alicerce a afirmações pessoais.
O trecho a que me refiro está na página 278 e 279 da 25. edição, lançada pela FEB.
Trata-se de uma comunicação em casa do sr. Roustan; médium srta Japhet, a 7 de maio de 1856. As perguntas são feitas ao espírito de Hahnemann, que as responde e o sub título do texto, que se inicia falando da missão do codificador, muda o rumo da conversa, versando sobre "Acontecimentos". Diz a pergunta:
P- A comunicação há dias dada faz presumir, ao que parece, acontecimentos muito graves. Poderás dar-nos algumas explicações a respeito ?
R-Não podemos precisar os fatos. O que podemos dizer é que haverá muitas ruínas e desolações, pois são chegados os tempos preditos de uma renovação da Humanidade.
P- Quem causará essas ruínas ? Será um cataclismo ?
R- Nenhum cataclismo de ordem material haverá, como o entendeis, mas flagelos de toda espécie assolarão as nações; a guerra dizimará os povos; as instituições vetustas se abismarão em ondas de sangue. Faz-se mister que o velho mundo se esboroe, para que uma nova era se abra ao progresso.
P-A guerra não se circunscreverá então a uma região ?
R-NÃO, ABRANGERÁ A TERRA..
P-Nada, entretanto, neste momento, parece pressagiar uma tempestade próxima.
R- As coisas estão por um fio de teia de aranha, meio partido.
P- Poder-se-á, sem indiscrição, perguntar donde partirá a primeira centelha ?
R- Da Itália.
Eis aí o trecho que suscitou nossa abordagem.
Atualmente, toda a vez que, pela Internet, ou em conversas tentamos saber o pensamento dos espíritas sobre a invasão do Iraque, contra todas as provas contrárias a existência de armas em massa, contra as determinações da ONU, e de várias nações, os espíritas manifestavam tédio, desinteresse, ou cuidado, no sentido de achar que deve-se apenas tocar no assunto Espiritismo sempre e que o Espiritismo não pode manifestar nada que fuja à Doutrina dos Espíritos.
O que se vê, claramente, através das perguntas de Kardec é exatamente o contrário, uma preocupação com os destinos da Humanidade, avisos que recebe sobre um cataclisma mundial, que ocorreria somente DAÍ HÁ 40 ANOS, E CUJO AVISO LHE CHEGAVA COM TANTA ANTECEDÊNCIA, UM ANO ANTES DO LANÇAMENTO DE O LIVROS DOS ESPÍRITOS. 
Sabemos que o tempo no Plano Espiritual se conta diferente de nossa maneira mais estreita de ver, mas Hahnemann não se furta a comentar o que estava sendo esperado, mesmo sabendo que tal fato, um cataclismo, uma guerra mundial aconteceria muito tempo depois de Allan Kardec ter consumado sua missão e até partido para o Mundo Espiritual.
É uma pena que os espíritas estejam sendo representados em cerimônias de posse, mas que não sejam vistos onde se faz necessário agir contra a violência, a miséria, e não demonstrem a preocupação QUe Kardec testemunhou, direcionando suas perguntas, não apenas sobre a missão que ele sabia ter como sua responsabilidade, mas também sobre os destinos do mundo em que vivemos.
Espíritas, pela sua transformação moral somos chamados a sermos os melhores, como pais, como irmãos, como filhos, como amigos, como cidadãos de um mundo que terá que derrubar as fronteiras do poder temporal, para conviver com uma planetarização de amor, convivência, respeito mútuo, e coragem de assumir posições.
Ainda deixo uma reflexão. Se a guerra a que Hahnemann se referia ocorreria 40 anos depois, ,ainda que "as coisas estivessem por fio de teia de aranha, meio partido", as especulações sobre o renascimento de Kardec, não deveriam também ser analisadas pela matemática do tempo espiritual ? 
Não basta apenas orarmos pela paz mundial, é mister trabalhar por ela, lembrando que Jesus, antes de falar à multidão faminta, deu-lhes de comer, mas antes, instou os discípulos, dizendo:
-Dai-lhes vós de comer.

Marilusa M. Vasconcellos



Editora Espírita Radhu Ltda.